Escreve-se, repete-se, cria-se, cita-se. Nas palavras de Nietzsche, funciona mais ou menos assim: “A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez”. Dessa forma é o Poucas e Tantas, um pouco de tudo, muitas coisas repetidas, outras inéditas (ou não tão inéditas), algumas curiosidades...

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A nós mulheres

Uma homenagem a nós mulheres, sexo frágil, seres mitológicos...

Mulher, sua origem e seu fim


Existem várias lendas sobre a origem da Mulher. Uma diz que Deus pôs o primeiro homem a dormir, inaugurando assim a anestesia geral, tirou uma de suas costelas e com ela fez a primeira mulher.
E que a primeira provação de Eva foi cuidar de Adão e agüentar o seu mau humor enquanto ele convalescia da operação.
Uma variante desta lenda diz que Deus, com seu prazo para a Criação estourado, fez o homem às pressas, pensando "Depois eu melhoro", e mais tarde, com o tempo, fez um homem mais bem-acabado, que chamou Mulher, que é melhor" em aramaico.
Outra lenda diz que Deus fez a mulher primeiro, e caprichou nas suas formas, e aparou aqui e tirou dali, e com o que sobrou fez o homem só para não jogar barro fora.
Em certas tribos nômades do Meio Oriente ainda se acredita que a mulher foi, originariamente, um camelo, que na ânsia de servir seu mestre de todas as maneiras foi se transformando até adquirir sua forma atual.
No Extremo Oriente existe a lenda de que as mulheres caem do céu, já de kimono.
E em certas partes do Ocidente persiste a crença de que mulher se compra através dos classificados, podendo-se escolher idade, cor da pele e tipo de massagem.
Todas estas lendas, claro, têm pouco a ver com a verdade científica.
Hoje se sabe que o Homem é o produto de um processo evolutivo que começou com a primeira ameba a sair do mar primevo*, e é descendente direto de uma linha específica de primatas, tendo passado por várias fases até atingir o seu estágio atual - e aí encontrar a Mulher, que ninguém ainda sabe de onde veio.

É certamente ridículo pensar que as mulheres também descendem de macacos.
A minha mãe, não! Mas de onde veio a primeira mulher, já que podemos descartar tanto a evolução quanto as fantasias religiosas e mitológicas sobre a criação?
Inclino-me para a tese da origem extraterrena.
A mulher viria (isto é pura especulação, claro) de outro planeta. Venho observando-as durante anos - inclusive casei com uma, para poder estudá-las mais de perto - e julgo ter colecionado provas irrefutáveis de que elas não são deste mundo.
Observei que elas não têm os mesmos instintos que nós, e volta e meia são surpreendidas em devaneio, como que captando ordens de outra galáxia, embora disfarcem e digam que só estavam pensando no jantar.
Têm uma lógica completamente diferente da nossa.
Ultimamente têm tentado dissimular sua peculiaridade, assumindo atitudes masculinas e fazendo coisas - como dirigir grandes empresas e xingar a mãe do motorista ao lado - impensáveis há alguns anos, o que só aumenta a suspeita de que se trata de uma estratégia para camuflar nossas diferenças, que estavam começando a dar na vista.
Quando comentamos o fato, nos acusam de ser machistas, presos a preconceitos e incapazes de reconhecer seus direitos, ou então roçam a nossa nuca com o nariz, dizendo coisas como "ioink, ioink" que nos deixam arrepiados e sem argumentos.
Claramente combinaram isto. Estão sempre combinando maneiras novas de impedir que se descubra que são alienígenas e têm desígnios próprios para a nossa terra. É o que fazem quando vão, todas juntas, ao banheiro, sabendo que não podemos ir atrás para ouvir.
Muitas vezes, mesmo na nossa presença, falam uma linguagem incompreensível que só elas entendem, obviamente um código para transmitir instruções do Planeta Mãe.
E têm seus golpes baixos. Seus truques covardes. Seus olhos laser, claros ou profundamente escuros, suas bocas.
Meu Deus, algumas até sardas no nariz.
Seus seios, aqueles mísseis inteligentes. Aquela curva suave da coxa quando está chegando no quadril, e a Convenção de Genebra não vê isso! E as armas químicas - perfumes, loções, cremes.
São de uma civilização superior, o que podem nossos tacapes contra os seus exércitos de encantos?
Breve dominarão o mundo.
Breve saberemos o que elas querem.
E depois de sair este artigo eu for encontrado morto com sinais de ter sido carinhosamente asfixiado, com um sorriso, minha tese está certa.

* relativo aos tempos primitivos.

Luis Fernando Veríssimo

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

a casa da louca x a louca da casa

O livro A Louca da Casa, da espanhola Rosa Montero, é antes de tudo um delicioso livro. Através de citações de diversos autores e das lembranças de sua infância e juventude, na efervescente Madri dos anos do ditador Franco (Franquismo/1939-1976), a escritora apresenta ao leitor “a louca da casa”, que é a imaginação criativa do romancista, sua impressão sobre o mundo e seus personagens, escrita de forma autobiográfica.

O que chama atenção na obra (e não somente este fato), são os capítulos 3, 6 e 18, onde a autora conta seu caso de amor com o autor “M.” em três versões bastante distintas.

Fica no leitor a dúvida: Pode o autor controlar a sua inspiração criadora, não permitindo devaneios ou “a louca da casa”, em algum momento, pode assumir o controle da obra e escrever, dando asas à sua imaginação, nem sempre amparada pela verdade dos fatos?

Em todo caso, o melhor é ler, se divertir e, se possível, entender.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Quanto vale uma crônica? - por Artur Xexéu

Não teve carnaval em 1894. Não foi um jejum geral de folia. Há indícios, por exemplo, de que justamente em 1894 aconteceu o primeiro carnaval de Aracaju. Há sinais ainda de que a festa aconteceu normalmente em Salvador com os clubes Cruz Vermelha e Fantoches desfilando nas ruas e se esbaldando nos bailes dos teatros São João e Politeama. Mas não teve carnaval no Rio. Foi proibido por lei.

Não sei bem o que motivou a lei. Parece que as autoridades não queriam mais confusão do que a naturalmente provocada pela Revolta da Armada. A Revolta trouxe outras consequências, como a transferência da capital de Niterói para Petrópolis. Mas nenhuma foi tão drástica quanto a suspensão do carnaval. Machado de Assis, que aparentemente nem se preocupou tanto assim com a Revolta da Armada, previu uma tragédia apocalíptica com a proibição da folia, como escreveu em crônica publicada no dia 4 de fevereiro daquele ano fatídico:


“Quando eu li que este ano não pode haver carnaval na rua, fiquei mortalmente triste. É crença minha que, no dia em que deus Momo for de todo exilado deste mundo, o mundo acaba. Rir não é só le propre de l’homme(1), é ainda uma necessidade dele. E só há riso, e grande riso, quando é público, universal, inextinguível (...)”


Apesar dos temores de Machado, o carnaval não rolou, e o mundo não se acabou. Talvez pelo fato de o exílio de Momo não ter sido tão definitivo assim, como comprovam as ocorrências da festa em Aracaju e Salvador. Nem por isso, o espanto de Machado foi menor. Afinal, já naquele tempo, as leis por aqui não pegavam. E não é que justo aquela, a que proibia a alegria carnavalesca em 1894, tinha que pegar? É o que ele nos conta em outra crônica daquele ano, esta de 11 de fevereiro:


“Nunca houve lei mais fielmente cumprida do que a ordem que proibiu, este ano, as folias do carnaval. Nem sombra de máscara na rua. Fora da cidade, diante de uma casa, vi quarta-feira de cinza algum ‘confetti’ no chão. Crianças naturalmente que brincaram da janela para a rua, a menos que não fosse da rua para a janela. Os chapéus altos, que desde tempos imemoriais não ousavam atravessar aquela região no mundo que fica entre a Rua dos Ourives e a Rua Gonçalves Dias, e que é propriamente a Rua do Ouvidor, iam este ano abaixo e acima sem a menor surriada. Quem nos deu tal rigorismo na observância de um preceito?”


Duas questões me despertam a curiosidade neste texto de Machado de Assis. A primeira é que raio de Rua dos Ourives é essa? Bem, a Rua dos Ourives é de um tempo anterior à abertura da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco. Para rasgar a avenida, a esquecida Ourives foi dividida em duas: a primeira seria o trecho da Rua Miguel Couto que vai do Largo de Santa Rita até a Rio Branco, passando pela Avenida Presidente Vargas; a outra, o trecho da Rua Rodrigo Silva que vai da Rua Sete de Setembro até a Rua São José. Deu para enteder? Imagino que não. E não é minha intenção transformar a cabeça do pobre leitor num mapa imaginário do Centro da cidade. Passemos então à segunda questão despertada pelo pedaço de crônica machadiana: que revolta faria um prefeito de hoje proibir o carnaval? É difícil imaginar neste começo de século XXI uma disputa tão feroz entre Exército e Marinha que fizesse as autoridades municipais considerarem o carnaval um perigo. Guerra no Rio? Só se for entre a Rocinha e o Vidigal. Mas $ém imagina bandidos de favela brigando justamente no carnaval?


E se... é só uma hipótese... e se o carnaval fosse proibido? Como teríamos notícias de Viviane Araújo? E de Luma de Oliveira? E Jayder Soares? O que faz Jayder Soares quando não é carnaval e não tem camarote da Grande Rio para organizar? Nem é preciso dizer que, no tempo de Machado, o carnaval não era assim.


Porque em 1895, vencidos os perigos da Revolta da Armada, o carnaval voltou a ser permitido no Rio, e lá estava Machado, com mais uma crônica, agora de 3 de março de 1895, para descrevê-lo:


“Tantas são as matérias em que andamos discordes, que é grande prazer achar uma em que tenhamos a mesma opinião. Essa matéria é o carnaval. Não há dois pareceres; todos confessam que este ano foi brilhante, e a mais de um espírito azedo e difícil de contentar ouvi que a Rua do Ouvidor esteve esplêndida.


“Ouvi mais. Ouvi que houve ali janela que se alugou por duzentos mil réis, e terá havido ou$muitas. É ainda uma causa da harmonia social, porquanto, se há dinheiro que sobre, há naturalmente conciliação pública.


Nas casas de pouco pão é que o adágio acha muito berro e muita sem razão. Uma janela e três ou quatro horas por duzentos mil réis é alguma coisa, mas a alegria vale o preço. A alegria é a alma da vida. Os máscaras divertem-se à farta, e aqueles que os vão ver passar não se divertem menos, não contando a troca de ‘confetti’ e de serpentinas, que também se faz entre desmascarados. Uns e outros esquecem por alguns dias as horas aborrecidas do ano.”


Vem cá, no carnaval de 1895, alugavam-se janelas na Ouvidor para ver os mascarados passar? Não sei não, mas isso parece a semente do camarote da Grande Rio. Até que o carnaval de Machado não era tão diferente assim do dos dias de hoje.


A esta altura da crônica, você deve estar se perguntando o porquê de tantas citações a Machado de Assis. É que o escritor foi meu maior companheiro na última semana, desde que comprei num sebo, por R$ 4, um livro com suas crônicas publicadas no jornal “Gazeta de Notícias”. Foi a melhor relação custo-benefício de qualquer compra que eu tenha feito este ano. São 90 crônicas recheadas da mais fina ironia sobre acontecimentos do cotidiano carioca no fim do século XIX. E, convenhamos, R$ 4 é barato demais. Mas não seria excessivamente barato? É um livro encadernado, em bom estado, uma edição dos anos 40, conteúdo de primeira... Por que custou tão pouco?


Alguém poderia responder que crônicas não resistem ao tempo. Que o que valia para 1894 ou 1895 não serve para 2011. Será? As janelas alugadas da Rua do Ouvidor provam que não. Pode ser que o fato de o livro ser um volume desgarrado o tenha desvalorizado. Na verdade, meu livro de R$ 4 é o segundo volume de uma série de três que junta todas as crônicas escritas por Machado para aquele jornal. Mesmo assim, só R$ 4? Feitas as contas, cada crônica de Machado de Assis está valendo algo entre R$ 0,044 e R$ 0,045. Uma crônica do maior escritor deste país não chega a valer cinco centavos.


É desanimador. Se o mercado oferece uma crônica de Machado por menos de cinco centavos, quanto estará valendo uma crônica do humilde ocupante deste espaço às quartas-feiras? Não ouso arriscar.


http://oglobo.globo.com/cultura/xexeo/posts/2011/02/02/quanto-vale-uma-cronica-360522.asp

Quem sou eu

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No momento, sou uma citação do Mario Quintana: "A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa, como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali... Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!"

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