Outro dia, no ônibus, estava lendo aqueles adesivos de aviso de proibição quanto a utilização de aparelho sonoro, uso de cigarros, roupa de banho... e, então, dei por falta do “Fale com o motorista somente o indispensável”. Lembrei da minha infância, quando escalava os degraus do ônibus como se fossem verdadeiras montanhas. Uma dificuldade enorme para chegar “lá em cima”. E, ainda, tinha a roleta, aquele monumento metálico de uns dois metros de altura, que em muitos momentos era pura diversão, quando minha mãe me erguia nos braços a fim de que eu pudesse pular o obstáculo. As poltronas eram altas e eu ia balançando as pernas, feliz da vida nas viagens. Por volta dos seis anos de idade, orgulhosa por conhecer as letras, embora não soubesse o significado de muitas palavras, já as lia com facilidade. Foi quando me deparei com o “Fale com o motorista somente o indispensável”. Isso me custou, na época, horas a fio de inquietação. A cada vez que uma pessoa se dirigia ao motorista, eu me perguntava se aquele seria o tal “indispensável”. Imaginava ser essa uma função de muito valor, dado que somente ele poderia se dirigir ao condutor do veículo. Um senhor entrava pela frente e falava alguma coisa ao motorista, eu me perguntava: – Será esse o indispensável? Uma senhora o indagava e eu, mais uma vez, ficava intrigada. Os anos se passaram sem que eu soubesse, afinal, quem era essa figura tão ilustre e, infelizmente, desconhecida, o senhor ou a senhora indispensável. Quem dera tivéssemos sempre a curiosidade infantil, essa curiosidade das coisas simples, daquelas aparentemente sem valor, mas que poderiam deliciosamente nos fazer pensar e nos divertir de forma tão inocente.