Quando eu crescer quero direito ao descompromisso. Sem essa de atingir nível de excelência, alcançar o topo ou chegar lá. Só aceito crescer com a condição de conservar a meninice. E cultivando a meninice quero ter riso fácil, como quem não se preocupa com o passar do tempo: sente saudades do que foi sem se apegar em demasia; aguarda o que está por vir sem qualquer sinal de ansiedade.
Quando eu crescer quero estar em plena forma. Cultivar o corpo pulando corda e a mente contando histórias. Só concordo em crescer, se me for permitido arrancar da cara a expressão sisuda de quem finge dia após dia preocupação demais. Porque crescer pode ser tudo, menos entediante.
Quando eu crescer dinheiro não haverá de ser problema, tampouco a solução. Porque até lá a vida será à base da mais justa permuta: dá amor, ganha amor; oferece amizade, recebe carinho. Troca-se generosidade por esperança. Tesão por paixão. Troco sexo por cumplicidade – procuro intimidade de verdade.
Quando eu crescer terei deixado as neuroses onde nunca deveriam ter saído. Ciúme, inveja, dor-de-cotovelo e insegurança estarão fora do papo. Porque quando crescer me tornarei dona de mim. Até lá terei negociado com Deus o quanto tenho de direito sobre minha pessoa.
Quando eu crescer quero repensar a lei do desapego. Quero, aliás, mil motivos para me enroscar naqueles que amo e fazer dos encontros verdadeiros rituais. Quero brindar a família e celebrar as amizades. Porque quando crescer prometo coragem para declarar independência a tudo, menos às pessoas que gosto.
Quando eu crescer quero continuar ganhando colo de mãe e conselho de pai. Mesmo que pai e mãe não estejam mais aqui. Mesmo que mãe e pai sejam os amigos tão amigos quanto pai e mãe me foram.
Quando eu então crescer, terei o amor como único alimento e remédio.
Gabriela Souza Gomes
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