sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Novamente Pessoa
"O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida."
Fernando Pessoa
"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso. "
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Quando eu crescer
Quando eu crescer quero direito ao descompromisso. Sem essa de atingir nível de excelência, alcançar o topo ou chegar lá. Só aceito crescer com a condição de conservar a meninice. E cultivando a meninice quero ter riso fácil, como quem não se preocupa com o passar do tempo: sente saudades do que foi sem se apegar em demasia; aguarda o que está por vir sem qualquer sinal de ansiedade.
Quando eu crescer quero estar em plena forma. Cultivar o corpo pulando corda e a mente contando histórias. Só concordo em crescer, se me for permitido arrancar da cara a expressão sisuda de quem finge dia após dia preocupação demais. Porque crescer pode ser tudo, menos entediante.
Quando eu crescer dinheiro não haverá de ser problema, tampouco a solução. Porque até lá a vida será à base da mais justa permuta: dá amor, ganha amor; oferece amizade, recebe carinho. Troca-se generosidade por esperança. Tesão por paixão. Troco sexo por cumplicidade – procuro intimidade de verdade.
Quando eu crescer terei deixado as neuroses onde nunca deveriam ter saído. Ciúme, inveja, dor-de-cotovelo e insegurança estarão fora do papo. Porque quando crescer me tornarei dona de mim. Até lá terei negociado com Deus o quanto tenho de direito sobre minha pessoa.
Quando eu crescer quero repensar a lei do desapego. Quero, aliás, mil motivos para me enroscar naqueles que amo e fazer dos encontros verdadeiros rituais. Quero brindar a família e celebrar as amizades. Porque quando crescer prometo coragem para declarar independência a tudo, menos às pessoas que gosto.
Quando eu crescer quero continuar ganhando colo de mãe e conselho de pai. Mesmo que pai e mãe não estejam mais aqui. Mesmo que mãe e pai sejam os amigos tão amigos quanto pai e mãe me foram.
Quando eu então crescer, terei o amor como único alimento e remédio.
Gabriela Souza Gomes
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Quem sou eu
- Ana Cláudia Azeredo
- Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
- No momento, sou uma citação do Mario Quintana: "A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa, como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali... Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!"